
CONTRA-CAPA, POR JEAN-JACQUES LEMÊTRE

É absolutamente necessário escrever um livro sobre música do teatro, e esse não é a apenas mais um livro.
Marcello soube escutar, dedicar tempo, analisar, discutir e trocar, procurar a fim de escrever seu livro,que ele escreveu com paixão. Bons ventos e belas sensações, e exercitemos nossa imaginação!
APRESENTAÇÃO, POR GIL JARDIM
Para todos que se interessam por arte, a obra se constitui numa oportunidade inédita de conhecer os processos criativos que caracterizam o trabalho dos compositores e encenadores teatrais.
Trata-se de uma leitura envolvente, que tanto informa quanto estimula a reflexão, já que foi gerado no terreno fértil da teoria e da prática do fazer musical teatral. Dessa forma, o texto de Amalfi soa como fruto de suas experiências pessoais e nos conduzem a uma visão contemporânea do tema, desvelando a interatividade artística entre as linguagens musical e teatral.
Este é um livro para um público amplo e traz a virtude de transformar a pesquisa acadêmica em conteúdo acessível aos mais variados leitores. Quanto aos músicos, compositores, atores, encenadores e toda a gente do palco, que utilizem esse trabalho de forma transformadora.
PREFÁCIO, POR LAURO CÉSAR MUNIZ
O Teatro é predominantemente objetivo. A Música é predominantemente abstrata. É essa a grande contribuição do magnífico estudo do Maestro Marcello Amalfi para conciliar as duas expressões tão díspares e que se complementam tão bem! Que fenômeno artístico é esse? Como teatro e música se buscam no tempo e na história? Que perfeita harmonia nasce quando se encontram?

A análise histórica do Teatro e da Música, através dos tempos, nos ajuda a desvendar e responder a questão: parece tão natural quando à cena teatral se insere uma parte musical, parece uma necessidade potencialmente tão nítida à primeira vista, um diálogo perfeitamente natural. E quantas voltas a história deu para conciliar essa harmonia tão desejada pelo Teatro, tão desejada pela Música.
O Maestro Amalfi conduziu seu estudo dividindo o livro em movimentos como nas partituras musicais. Faz uma viagem pela história da intersecção entre o teatro e a música desde as tragédias gregas. Em vôo de pássaro busca os grandes nomes de autores, encenadores, compositores e maestros como Jean-Baptiste Lully (apontado por muitos datadores como o primeiro maestro), Moliére, Berlioz, Liszt, a visão de Èmile Zola, a ópera comWagner, André Antoine, Debussy, Appia, Craig, Stanislavski, Meyerhold, Kurt Weill, Brecht e tantos outros.
O cinema não consegue prescindir da música, desde a fase do cinema mudo quando um pianista ficava de olho nas peripécias da tela. As tentativas de um cinema que tenta se bastar nas imagens e diálogos acabaram crescendo na busca musical. Como prever o gênio de Fellini sem a preciosa colaboração de Nino Rota? Ou de Glauber Rocha e seu inovador “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, sem a explosão da música de Sérgio Ricardo? “E o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão!”
Como autor teatral, roteirista de cinema e televisão, sinto a força de expressividade das pontuações musicais principalmente em meus trabalhos na televisão, na medida em que as telenovelas vivem das emoções e das expectativas fortes. As emoções são sublinhadas com melodias românticas e as expectativas com os acordes bombásticos. As trilhas sonoras acentuam todas a nuances e frisam até os personagens mais importantes com sons facilmente identificáveis. As telenovelas acabam por gerar trilhas de temas musicais populares, que acabam se tornando sucessos fáceis que o mercado explora nas emissoras de rádio, shows na programação da rede de TV e venda de CDs que, em geral, são os campeões de audiência.
No teatro a inserção de trilhas é mais seleta, cuidadosa e, na maioria das vezes, está marcada na própria ação dramática, ou seja, a música é executada ou cantada por personagens. Como muito bem analisa este livro, autores importantes tiveram íntima colaboração de grandes compositores: Brecht trabalhou muito com Kurt Weill na feitura de suas peças, compondo letras adequadas à ação e aos seus métodos dialéticos de alerta sobre situações político-sociais. No teatro brasileiro, esse exemplo gerou produções importantes como “Arena Conta Zumbi”, de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal com composições de Edu Lobo, “Arena conta Tiradentes”, dos mesmos autores, com músicas de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Sidney Miller. Um exemplo dos mais notáveis é “A Ópera do Malandro” com texto e músicas de Chico Buarque. No Terceiro Movimento deste livro, o maestro detalha essa rica interação do seu trabalho com vários encenadores como Jairo Mattos e os “Catadores”, Antônio Abujamra e “Os Possessos”, Bárbara Bruno e vários trabalhos de minha autoria.
Em minhas peças teatrais também criei, episodicamente, alguns personagens cantantes. Em “O Santo Parto”, meu trabalho mais recente, acompanhei a discussão e troca de ideias da diretora Bárbara Bruno e do Maestro Amalfi e me entusiasmei com o resultado obtido pelos dois. Destaco a brilhante observação do maestro sem copiar suas palavras (que estão em vários parágrafos, compondo a ideia): o caráter de todos os personagens, distintos entre si, levou o maestro a buscar em cada um o seu “tecido” (*) próprio, pois cada personagem estava em uma época: um Cardeal morto há quase 200 anos, convivia com outro que clonava Elvis Presley da década de 1950, com um padre pecador, na atualidade. Variada tessitura que, para a acuidade do público espectador, resultou, ao final, a sensação de um “tecido comum” ao harmonioso conjunto. O vocábulo “tecido”, metáfora adotada no livro, exprime todo o aparato que compõe o personagem: seu caráter e aspecto humano-psicológico, seu tom de voz, seus trajes, seus adereços cênicos, sua postura física.
O Maestro Amalfi viveu em 2011 uma experiência riquíssima em estágio com o elenco e criadores do Théâtre Du Soleil, Ariane Mnouchkine e o seu parceiro Jean-Jacques Lemêtre, compositor e músico da equipe. Depoimentos valiosos dos dois grandes artistas envolvidos com a rotina (rotina para eles) da trupe são relatados no livro. Experiência rara que traz a este livro ineditismo transformador: a história do teatro e da música, é complementada por uma explosiva visão contemporânea.
A linguagem do livro, apesar de alguma complexidade do tema, é precisa, adequada, mas busca o alcance do leigo do teatro ou música. Uma análise que será, com certeza, muito útil não apenas aos profissionais e estudantes, mas a qualquer leitor, introduzindo-o no maravilhoso mundo da arte em geral. Para os músicos, o livro tem um presente: várias partituras, exemplos concretos dos muitos trabalhos de Amalfi…
Seu autor está na plateia, as partituras nas estantes, instrumentistas a postos…. Música, Maestro!
São Paulo, janeiro de 2015.